Ensaio sobre Mentiras

1. INTRODUÇÃO
No dia-a-dia, durante qualquer conversa, pode-se escapar uma informação não tão verdadeira por parte de uma ou outra pessoa. Algumas mentirinhas podem ser inofensivas, mas grande parte das mentiras esconde algo de risco e que trará problemas se alguém resolver investigar a fundo. Seja no ramo de investigações policiais, a interesse de empregadores ou uma simples desconfiança entre colegas, sempra há o interesse em saber se a pessoa com quem se fala está sendo devidamente honesta ou não.
Com esse incentivo, este humilde artigo faz um apanhado de padrões apresentados por mentirosos e algumas técnicas utilizadas para reconhecê-los. Apesar dos estudos na área se estenderem por décadas e até com a atual tecnologia, não existe nenhum meio totalmente eficaz na detecção de uma mentira. O que apresentamos aqui são indicadores de comportamento dúbio.


2. RECONHECENDO UM MENTIROSO
Encontrando-se em uma discussão, principalmente quando se está acusando o interlocutor de algo, é possível notar algumas irregularidades no comportamento dele. Dentre elas, aqui há alguns exemplos:
  • Gesticulação limitada. Mãos, braços e pernas movimentam-se em direção próprio corpo. O mentiroso ocupa menos espaço.
  • Mãos tocando a face, garganta e boca. Coçar o nariz ou atrás da orelha. Improvável que acaricie o peito com a mão aberta.
  • Demora para expressar emoções. Segura-as por muito tempo e cessa de repente.
  • Desincronia entre expressão corporal e verbal de emoções.
  • O mentiroso sente-se desconfortável em encarar o confrontante. Vira a cabeça ou o corpo.
  • Posiciona objetos entre si e o confrontante.
  • Pode colocar pouca enfatização nos pronomes e falar frases embaralhadamente.
Apresentaremos algumas técnicas de detecção do momento em que uma possível mentira é dita. Os métodos são vários, podendo alguns serem executados apenas fazendo uso da observação e outros recorrendo-se a equipamentos.

3. OBSERVAÇÃO
3.1 Micro-Expressões
São contrações musculares involuntárias e que dificilmente podem ser simuladas. Ocorrem geralmente em situações decisivas e são dirigidas por emoções. A ideia foi difundida por Haggard e Isaacs em 1996 que escreveram o livro "Unmasking the Face", apesar de que o estudo já vem de décadas atrás. Há um sistema de categorização das expressões chamado Facial Action Coding System (FACS) criado por Paul Ekman. FACS mede o relaxamento e a contração de cada músculo facial e fornece uma pontuação (Action Unit) com base na duração, intensidade e assimetria. Ekman é um psicólogo bastante influente no estudo de emoções e expressões faciais, e também condutor do Wizards Project.

Figura 1: músculos envolvidos na expressão de emoções

O problema deste método é que as micro-expressões também são de difícil detecção. É necessária a especialização e um profundo conhecimento além de equipamentos específicos. Dada a curta duração de uma contração muscular facial (que varia entre 1/25 e 1/15 segundo), geralmente analisa-se um interrogatório utilizando fotos e filmagens em slow-motion.
3.2 Movimento Ocular
O desvio da direção em que os olhos do interlocutor se focam pode determinar o tipo de raciocínio que está sendo executado, mas não implicam necessariamente em uma mentira. Aqui são apresentados os casos para uma pessoa destra. Os lados se invertem para os canhotos.
Figura 2: movimento dos olhos
Considerando o ponto de vista do sujeito sendo interrogado, quando ele olhar para cima e à direita, estará acessando a área de Construção Visual. Isto significa que ele está tentando gerar uma imagem não vista anteriormente. Para cima e à esquerda, indica Memória Visual, ou seja, está tentando se lembrar de algo já visto. O mesmo vale para o meio à direita e à esquerda, entretanto, se tratando de sons imaginados ou anteriormente ouvidos, podendo ser também uma tentativa de encontrar palavras para expressar uma ideia. Quando o indivíduo olhar para baixo à direita, estará tentando se lembrar de um cheiro, gosto ou algum sentimento experienciado. Para baixo e à esquerda, é a área de Diálogo Interno, onde o sujeito conversa consigo mesmo, raciocinando em busca de uma resposta.
3.3 Statement Analysis
A análise de depoimento é o processo utilizado principalmente pelas autoridades para analisar as frases e palavras e determinar se a declaração é legítima ou não. Pode ser feito através da verificação do uso dos devidos pronomes pessoais, concordância na conjugação verbal entre orações, uso de pronome definido ou indefinido, entre outros. Baseia-se apenas nas palavras, não na interpretação da mensagem. A análise pode se estender a manuscritos.

4. EQUIPAMENTOS
4.1 Polígrafo
O Polígrafo, popularmente conhecido como Detector de Mentiras, é um aparato que mede e registra diversas variações fisiológicas. Apesar de existirem variados tipos, a maioria tende a analisar a pressão sanguínea, o pulso, a respiração e a condutibilidade da pele. O teste feito com o polígrafo inicia-se com uma pequena entrevista para se ganhar informações básicas que serão utilizadas como Perguntas de Controle. São feitas então Perguntas Relevantes, durante as quais compara-se os registros do polígrafo com as reações às Perguntas de Controle.
Figura 3: Polígrafo
Os resultados do teste não são garantia de uma mentira ou verdade certa[1]. Nos EUA, o aparelho é muito usado em investigações, porém seu resultado não é considerado uma evidência e o suspeito não tem obrigação de participar do teste. É ilegal o seu uso por parte de empregadores para testar seus candidatos. No Brasil, essa mesma lei existia até 2002 quando o Congresso Nacional aprovou sua alteração. Na Índia há casos em que o resultado do teste foi motivo de condenação dos suspeitos.
4.2 Voice Stress Analysis
Tremores irregulares nas cordas vocais ocasionadas pelo nervosismo ou insegurança ao se contar uma mentira é a base do estudo da Análise de Stress Vocal (internacionalmente conhecido como VSA). O estudo dos microtremores é considerado pseudocientífico e possui pouca credibilidade. O VSA se baseia na hipótese de que existem infrassons na voz causados pelos microtremores.
4.3 fMRI
Um tipo de ressonância magnética especializado em medir alterações na corrente sanguínea relacionadas a atividades neurais é o fMRI. Este procedimento tem se mostrado propício para se detectar mentiras. Enquanto o polígrafo detecta mudanças no sistema nervoso periférico, o fMRI teria o potencial de pegar a mentira direto da fonte[2]. Apesar de já se saber que, por exemplo, quando se mente, há uma maior atividade cerebral nas partes Córtex Pré-frontal e Lobo Parietal, os estudos na área de ativação cerebral ainda requerem avanços.
Figura 4: Lobos cerebrais
4.4 Drogas
O Soro da Verdade é uma droga psicoativa utilizada para se obter informações de suspeitos contra sua vontade. Essa operação é considerada antiética e é classificada como uma forma de tortura segundo o direito internacional[3]. Seu objetivo não é garantido. Alguns estudiosos sugerem que o efeito seja puro placebo, enquanto outros acreditam que o composto amobarbital, por exemplo, não induza o paciente a dizer a verdade, mas sim a falar mais. Esse tipo de droga foi comumente utilizado na India e Russia[4][5].
Figura 5: Amobarbital

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Comparando-se estudos e resultados obtidos através de inúmeros testes, pode-se concluir que os métodos mais eficientes são o de Análise de Depoimento e o fMRI. Possivelmente, o uso de ambos em um mesmo interrogatório fornecerá dados relevantes. Entretanto, é necessário lembrar que estes e todos os outros métodos citados não são totalmente eficazes. Não só é impossível ler a mente de alguém psra saber a verdade por trás de uma mentira, como é impossível provar se uma pessoa é culpada de algo apenas considerando suas reações durante um teste. O que se tem são variados métodos que indicam o quão sensível uma pessoa é a uma determinada pergunta.

REFERÊNCIAS
  1. Morris, Roberta, "The Admissibility of Evidence Derived from Hypnosis and Polygraphy," in Psychological Methods in Criminal Investigation and Evidence, ed. by David Raskin (Springer Publishing Co., 1989.)
  2. Davis, R. C., "Physiological Responses as a Means of Evaluating Information," in A. D. Biderman & H. Zimmer, eds., The Manipulation of Human Behavior (Wiley, 1961).
  3. Brugger W: May governments ever use torture? Am J Compar Law 2000; 48: 661–678.
  4. Mann J: The use of sodium amobarbital in psychiatry. Ohio State Med J 1969; 65: 700–702.
  5. Piper A Jr: 'Truth serum' and 'recovered memories' of sexual abuse: a review of the evidence. J Psychiatry & Law 1993: 3: 447–471.
  6. Toni, "Detecting Lies - Research and Resources", Blifaloo. Available: http://www.blifaloo.com/info/lying-resources.php
  7. Mark McClish, Statement Analysis. Available: http://www.statementanalysis.com/nonverbs/
  8. Wikipedia, Lie detection. Available: http://en.wikipedia.org/wiki/Lie_detection
  9. Wikipedia, Microexpression. Available: http://en.wikipedia.org/wiki/Microexpression

2 admirable thoughts:

{ Thiago } at: 13 June 2011 at 07:03 said...

Bom saber mais sobre o soro da verdade. Sempre pensei que fosse uma lenda, mas dizem que pode ser placebo, então talvez seja mesmo.
E para quem gosta disso, Lie to Me é muito interessante.

{ BomberAzul } at: 13 June 2011 at 17:29 said...

Poxa legal acho isso fascinante.

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